quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Terceiro Capítulo - Disponível!

Capítulo 3

- Sua Santidade – disse uma mulher de cabelos castanho que exibia metade do corpo para dentro da sala papal - tem dois padres que vieram para falar com o senhor – comunicou ela com um sorriso sutil.
O superior estava no canto da sala e ergueu a cabeça, ajeitou os óculos na ponta do nariz e perguntou: (continue lendo)
- O que querem? – com uma serenidade impressionante.
- Não quiseram falar, mas estão atônitos, desesperados e cansados, acho que vieram correndo, são da arquibasílica de São João de Latrão.
- Mande que entrem, por favor – disse fazendo um gesto com a mão.
Logo após um curto intervalo de tempo, os dois entraram com as mãos para trás e não hesitaram em se curvar para o papa.
- O que os trazem aqui?
- Seremos tão diretos quanto o que nos ocorreu, nessa madrugada – começou Geringh gaguejando – aconteceram coisas estranhas na arquibasílica, a abside principal estava toda cheia de sangue, com símbolos e escritas em latim, viemos comunicá-lo – mal conseguia falar.
- O quê? – perguntou mais atônito que os dois juntos, o religioso era um homem magricela e tinha olhos que pareciam bolinhas de gude, aparentava ter mais de sessenta anos devido as rugas no rosto.
- Oh Meu Deus, preciso ver isso – quase que deixando os dois sozinhos na sala, mas sendo segurado por Hubermen, que rapidamente o conteve dizendo:
- Vossa Santidade, já limpamos tudo, não podíamos deixar que mais ninguém visse, seria denegrir a imagem católica diante do mundo, se caso isso vazasse pela imprensa.
Emannuel sentou-se novamente na sua cadeira, deixando seu corpo afundar na almofadada que provavelmente deveria custar milhões, ou talvez tivesse sido doada por algum rei.
- Também encontramos isso senhor – Hubermen mostrou o envelope e entregando-o ao papa ao mesmo tempo em que o tom dourado brilhava diante do enorme lustre no teto acima da mesa de madeira escura.
Todos ficaram ali contemplando o pequeno objeto branco.
 - Também escrevemos tudo o que estava escrito nas paredes em um papel, para lhe mostrar e não perder dados, talvez sejam importantes para Vossa Santidade - Geringh deu ao homem um pergaminho enrolado, enquanto tremia – está escrito em detalhes.
Emannuel pegou e abriu, começara a ler quando sua nuca arrepiou ao ler tamanhas informações, nada mais vinha na sua mente do que as palavras e os símbolos. Dobrou o pergaminho e colocou debaixo de uma estatueta de São Pedro que estava na mesa, logo depois disse:
- Espero que o que aconteceu não saia da boca de nenhum de vocês, acho que estamos prestes a uma guerra horrível, a uma profecia sangrenta.
Durante anos a igreja passou por muitos conflitos, mudanças e traições sem igual, a igreja foi vítima, sempre foi e parece que a madrugada de hoje fomos vítimas outra vez de um ataque pagão. E agora, pelo que vejo no que me trouxeram que estamos prestes a sofrer uma guerra histórica, onde o mal se levantara contra o bem e o bem contra o mal. As palavras do homem fizeram com que Hubermen e Geringh arrepiassem todo o corpo e também se apavorassem.
A sala era rodeada de prateleira enormes, com livros enormes e com histórias enormes, havia uma janela atrás do papa, ela atravessava de fora a fora toda a parede, parte do piso era coberta por um tapete vermelho, apesar do lustre a sala parecia mais acinzentada do nunca, a lareira acesa mostrava dias frios em Roma.
- Senhor Emannuel, não vai abrir o envelope? – perguntou Hubermen cheio de curiosidade.
- Sim meu caro, mas não agora, prefiro não assustá-los mais, nunca se sabe o que deve haver nisso. Vocês dois podem ir e fiquem de olhos bem abertos na arquibasílica, qualquer movimento errado, comuniquem aos militares e a mim – disse estendendo-lhes as mãos como forma de despedida.
Os dois religiosos cultamente saíram até não se ouvir mais nenhum som na sala papal. Emannuel se levantou, abriu o envelope e não se surpreendeu ao ler tudo, levantando-se foi até uma prateleira e colocou o papel entre alguns livros, voltou para a mesa. A luz do sol batia contra a janela, de frente para a mesma e olhando todo o raio romano, as casas enfileiradas, as pessoas se movimentando rapidamente, ele refletiu sobre centenas de fatos ocorridos por ali e que só agora, depois de muitos anos veio a acontecer outro atentado pagão. Parado por alguns minutos virou-se dando as costas para a janela, os seus olhos demonstravam os mesmos olhos dos padres, demonstrava medo.
Sentou-se e olhou para uma enorme imagem de Jesus Cristo na parede, mas algo o assustou e muito, a imagem estava de ponta cabeça, alguns segundos atrás se mantinha normalmente correta, nesse momento aquilo assustava muito e a imagem sorria para ele, com dentes afilados.
O local começava a criar um clima pesado e assustador, muito estranho. Uma neblina tomara tudo ali, já não parecia mais uma sala, mas sim um local deserto, longe das proximidades. A presença das prateleiras, da mesa, do lustre, da janela e da imagem não fazia mais parecer uma sala. Voltou-se para a imagem e viu que do rosto maléfico de Jesus, outro rosto começava a tomar forma e a sair do retrato. Aos poucos um corpo foi tomando forma e um homem de terno estava fora do retrato, flutuando com a cabeça para baixo e com o sorriso assustador.
O corpo flutuante girou cento e oitenta graus, colocou os pés ao chão sem ao menos causar barulho, o sujeito mostrava os dentes e seus olhos queimavam em fogo, era realmente horripilante, algo inimaginável. O chão não passava de terra e o odor de enxofre era tão forte que causava certa falta de ar no papa, os dois ficaram ali parados, ambos se entreolhando.
Emannuel estava tremendo, a única coisa que lhe veio a mente fora o que havia acabado de ler, não sabia o que dizer, seus pensamentos se transformavam em um emaranhado desregulado de memórias, mesmo assim rompeu o silêncio ao dizer:
- Quem é você?
- Como entrei pela chaminé, talvez deva ser o Papai Noel, não acha Vossa Santidade? – dizia zombeteiramente enquanto a chaminé acesa queimava como nunca.
- Quem é você? Não brinque com um homem de Deus, você é algum demônio? Não entrou pela chaminé – convencido de que o homem era uma anormalidade.
- Não brincar com um homem de Deus? Não tenho medo de Deus, se não nem arriscaria ter vindo até aqui, mas vim pegar uma coisinha que você guardou na sua prateleira – disse ele sentando em um banquinho e cruzando as pernas enquanto sorria.
- Não vou te entregar nada... Qual o seu nome? – indagou amedrontado.
- Meu nome? Já ouviu falar no filho do mal? Filho do deus maior, mas o meu deus é diferente do seu, meu pai quer explodir essa igreja em pedaços, quer fazer a cabeça de beatos como você se resumir a pó – falava o homem exibindo aproximadamente 1,75cm de altura, era forte e a pele clara fazia aparentar um fantasma, seus olhos pretos ornamentavam os cabelos escuros e penteados de lado. O terno que trajava se tornava mais fino com a neblina, usava luvas brancas e sapatos brancos. O pouco espesso bigode que tinha no rosto deixava-o com ar maléfico e o seu sorriso era estranhamente sagaz.
- O seu deus não é bom, apenas um anjo ridículo que tentou trair o meu, mas que foi em vão, tão fraco – disse o papa dessa vez tomando o lugar de zombeteiro.
- Não me venha com historinhas de criança – abanando a mão mostrando que não se importava com o que Emannuel acabara de falar.
No mesmo momento o sombrio sujeito com uma agilidade única e quase que imperceptível a olho nu pegou o religioso pelo pescoço, tirou-o do chão mostrando uma força fora do normal.
- Então senhor papa, vai falar mal de meu pai? – apertando o pescoço do homem com mais força até que suas veias saltassem, ele tentava escapar balançando o corpo todo, mas em vão, o homem estrangulava com tamanha força que não havia mais nada o que fazer.
- Calma, podemos conversar – chorando com terror nos olhos.
- Hum... Conversar? Um religioso conversando com um homem do mal, não é pecado? – dando uma gargalhada maléfica – Você está chorando seu idiota, hipócrita, é humilhante não é?
- Sim, conversar...  – mal conseguia falar.
O estranho soltou o papa que caiu sentado na cadeira com as mãos no pescoço dolorido. Novamente o maléfico começou a falar:
- Então, faz um tempinho que estava lá fora, esperando a hora certa e percebi dois homens entrando aqui na igreja hoje, logo depois saíram com pressa, sabe-me dizer o que houve?
- Não sei, acho que viu errado – falou Emmanuel tentando desconversar.
- Não minta para mim, ou quer que ocorra um novo conclave? – perguntou com ironia, mas decidido a matar para conseguir o que queria, agora ficando mais enraivecido.
O papa estava vendo o demônio propriamente dito bem na sua frente e não tinha para onde correr.
- Estava escrito sobre Constantino, fundador da basílica, sobre uma profecia – as mãos dele tremiam como se todo o calor ali fosse frio.
- Mas de que jeito estava escrito? – aproximando o rosto gélido ao rosto do papa que começara a suar.
- Constantino virá, a profecia acaba de começar – respondeu o religioso.
O homem demoníaco deu outra risada.
- Acha que eu não sabia? – indagou com tom maligno.
- Foi você quem fez aquilo? Seu demônio!
- Não, não fui eu, o mal age de surpresa, não avisa nada, nem eu sei quem foi, também não importa, deve ser alguma pessoa querendo avisar a igreja, para deixá-la a par de tudo. E o que estava escrito na carta?
- A carta? Não te entregarei a carta em hipótese alguma.
- Você é quem sabe papa do meu coração, assim vou sofrer ao te fazer muito mal, não acha? – perguntou zombeteiramente.
- Não vou entregar, já disse! O meu Deus está comigo, nada vai me acontecer.
- Hum... Como diz com tanta certeza, – zombou – o seu Deus nem cuida dele mesmo, vai cuidar de ti, pobre cristão? Acha que o que você e seu bando de idiotas chamam de seu deus se preocupa com um medíocre como você?
O homem estava ficando furioso, abriu os braços e fechou os olhos enquanto um vento muito forte começou a bater, o lustre balançava com muita força, parecia que ia cair. Com muita rapidez e força da mente fez com que alguns vasos ficassem suspensos e os jogava contra a parede, causando muito barulho.
Emmanuel estava muito assustado, parecia tudo estar perdido, seus olhos pediam por socorro e por misericórdia, mas sua voz não saia, estava pálido e o seu nariz começava a sangrar.
- Papa! Está gostando da brincadeira de mágica? – rindo sem parar – Nossa... Nem ao menos consegue falar, devo ser muito bom nisso, não sou?
E com um movimento de braço fez o religioso flutuar e ir de costas direto contra a parede.
Se aproximando do padre que estava caído no outro canto do cômodo, andava calmamente e sempre olhando para os olhos do aterrorizado.
- Sabe... Eu posso pegar a carta quando eu bem entender, pois você não pode comigo, mas quero que o novo conclave venha logo. Quem sabe o novo papa seja mudo, pelo menos não o matarei por ter falado tanto.
O homem impiedosamente se aproximou, o pegou pela gola da roupa, suspendeu Emannuel sem o menor esforço, dizendo:
- E agora? Você disse que o seu deus não permitiria! Não foi? Acho que o seu mestre, ou como seja que você o chama, deve apenas estar no banheiro cuidando de uma das anjinhas, não é mesmo idiota? – dando uma risada horrível – Acho que vou fazer o seu nariz parar de sangrar, mas quem sabe os seus neurônios que só pensam em Bíblia saíam pela boca. Ou devo te obrigar a comer um de seus santos feitos em prata? Ou aqueles livros de ouro! Pelo menos come toda a riqueza que tem, como não distribui aos necessitados mesmo, pode comer agora – dizia olhando para uma prateleira cheia de livros dourados, com outro movimento derrubou a todos, logo depois a prateleira despencava batendo firmemente contra o chão.
- Por favor, não me mate! Imploro-te – pedia chorando.
- Hum... Deixe-me pensar, vamos ver se você merece – o estranho maléfico fechou os olhos por alguns segundos e os abriu gritando - Já pensei, acho que não!
Seus dentes pontiagudos representavam uma sede de matança, segurou por um tempo o papa e o matou fulminantemente enterrando o braço de Emannuel contra a própria garganta.
Após os últimos gemidos, o sujeito disse:
- Meu nome é Luciférius.
Não demorou muito e ouviu-se o estalar de vidros quebrando. O homem maléfico acabara de fugir, deixando mais um conclave ao serviço da igreja católica.


Um comentário:

  1. Não me arrependi de ter continuado lendo.. É muito bom mesmo, agora estou ainda mais curiosa!

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