quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Quinto Capítulo - Disponível!

Capitulo 5

A tarde nublada daquele dia fazia com que as árvores balançassem mais do que o normal e nas ruas menos pessoas circulavam. O inverno chegava devagar aquele ano, mas já se notava como o vento gélido espreitava as ruas onde quer que a olho nu pudesse enxergar. A cidade também havia sido vítima de terremotos apavorantes, sendo famosa no mundo todo pelas catástrofes e por muitos filmes feitos ali.
O bairro era um lugar calmo, sem muitos tumultos, no momento lindas colegiais passavam conversando sobre assuntos de garotas, enquanto o vento jogava seus cabelos para trás deixando-as mais atraentes. (continue lendo)

Elas passaram em frente a uma banca de jornal e sorriram para um moço sentado em uma cadeira de praia ao lado da banca, ele também sorriu dando atenção a elas. Ele tinha cabelos escuros e um corpo atlético, isso foi o que mais chamou a atenção das moças, a maioria das estudantes de lá queriam homens atléticos, principalmente aqueles jogadores de futebol americano e que também gostassem de uma boa festa.
Scott era quase um deles, se não fosse pelo fato de não jogar futebol, mas era diferente em outras coisas também, o rapaz usava uma camiseta branca e uma calça jeans ralada, o tênis meio que sujo não mostrava muita novidade.
Seus pais não eram vivos, haviam sido mortos em um acidente brutal, dois automóveis de alta periculosidade fecharam o pai dele em duas mãos, sem opção o carro da família saiu em disparada por um barranco, Scott ainda menino fora jogado do banco da frente para fora do veículo, seus pais morreram na explosão rápida e fulminante do carro.
Esse fato impressionou a todos das regiões vizinhas, para todos era um milagre que o menino de dez anos de idade tivesse sobrevivido a tanto, seu pai Morph Duncan era um simples guia turístico da cidade e sua mãe Melina Fox trabalhava em uma fábrica de alimentos na cidade.
Os Duncan era uma família humilde e reconhecida por isso, moravam afastados do centro da cidade, viviam em um simples apartamento que dava bem de frente para uma igreja protestante, muito tradicional nos Estados Unidos.
Scott às vezes perdia noites de sono por causa das músicas religiosas que eram tocadas até altas horas da noite, isso despertava mais pavor no menino com relação à igreja. Um fato que o fazia não gostar muito de religião era o de que sua mãe ter que tirar dinheiro de casa para doar a igreja, para ele aquilo era aborrecedor, então gritava com a mãe às vezes “não se precisa comprar fé, não se precisa comprar Deus”, mas ninguém o compreendia, ele apenas era um menino.
O menino sempre dizia que fazia a sua igreja, tinha muita fé e conseguia sentir Deus como ninguém sem dar dinheiro à religião, a mãe sorria e passava a mão na cabeça do filho como se o entendesse. Um pouco rebelde na infância, apesar de adorar prender gatos em galhos de árvores, o menino se dedicou mais a estudar, pois era muito esperto para sua idade. Quando saiam para praticar beisebol, seu pai em momentos batia nas costas do menino e dizia, “você será um grande homem filho”, ao jogar mais uma bola de beisebol para Scott acertar, ele errava todas, nunca fora bom naquilo, mas o fazia para a alegria do pai.
Andava todas as tardes de bicicleta pelo quarteirão, vivia como qualquer outro menino californiano. Seus olhos verdes encantavam a qualquer um, sua inteligência vinha se desenvolvendo com muita intensidade que alguns achavam isso muito estranho. Melina, sua mãe era uma boa religiosa, brigava todos os domingos com o menino para que fosse a cultos junto com ela. Mas Scott nunca ia, ficava sempre em casa com o pai assistindo televisão ou vendo livros de turismo, observando nos livros a ponte Golden Gate, que ficava na mesma cidade, também gostava muito de observar as figuras, principalmente as pirâmides egípcias.
Quando os pais morreram, o menino acabou ficando com a avó, quando isso aconteceu o receio de que ele ficasse deprimido e depressivo foi grande, mas o carinho da avó e a força do garoto, o fez ser vivo novamente.
O jovem sempre sentiu que não estava nesse mundo por acaso, porém não sabia o que realmente o esperava, uma verdadeira máquina filosófica dentro de si fazia-o pensar de um jeito e não importa o que achassem dos seus pensamentos, pois sempre continuava firme em suas teorias filosóficas e no seu mundo diferente.
Um menino como qualquer outro, era aventureiro e fingia estar em uma aeronave passando por entre planetas, enquanto passava de bicicleta por algumas árvores.
Junto aos amigos, já na juventude era bem agradável, sempre ajudava a todos com as dificuldades escolares, realmente um adolescente diferente. Infelizmente era um pouco solitário, por expor suas ideias revolucionárias e quase impossíveis, seus amigos não o apoiavam muito, se preocupavam mais com garotas, festinhas e jogos esportivos.
Scott sempre ali sentado, em um banco da escola de São Francisco com aquele ar de solidão, quando não estava lendo algo que alimentava suas ideias, o garoto estava quase que meditando sozinho, sonhando acordado. E apenas ouvindo tudo o que se passava ao seu redor conseguiu entender o mundo, conseguiu perceber que o planeta não era uma bola de neve, que seria apenas jogá-la em algum lugar que esta se explodiria ao colidir, mas que logo era só pegar o que sobrou e fazer outra igual. Não, o mundo não era assim pra ele, o universo todo era importante para o jovem, achava que o planeta precisava de alguém, de um homem a educar a humanidade.
O maior sonho dele era mudar o mundo sozinho, não bem sozinho, mas mudando pessoa por pessoa, fazendo com que essas mudassem umas as outras, quando dizia isso em meio a outras pessoas todas zombavam de Scott, como se ele só falasse besteiras. O seu outro lado mais louco não o deixava demonstrar tanto as pessoas.
Com o passar do tempo foi crescendo e foi mudando, as ideias de ajudar o planeta iam ficando mais longe de sua mente, ficava mais sozinho do que antes e infelizmente o destino lhe pregou uma peça, aos dezoito anos perdeu a avó, foi uma perda triste, agora ela já não estava mais ali para ouvir as histórias mirabolantes do neto, ela conseguia realmente compreendê-lo. Isso o deixou desolado, sozinho no apartamento, não sentia mais vontade de nada, raramente freqüentava lugares públicos.
A aposentadoria da avó passou totalmente para o poder de Scott e com o dinheiro conseguiu comprar uma pequena banca de jornal bem no meio de um quarteirão e era nesse ponto comercial que o jovem Duncan estava agora sentado na cadeira de praia observando a tarde e sentindo o vento frio.
A sua frente uma mesa coberta por revistas que lia o dia todo, revistas de esporte, de mulheres e científicas. Na beirada da mesa um copo de suco que não estava mais gelado e com alguns ciscos que o vento trouxe.
Um dia todo de trabalho acabara cansando-o muito, logo pegou uma revista e começou a ler uma matéria sobre a anorexia no mundo, um assunto bem atual e que interessava a muitos, modelos morrendo por não comer, Scott achava disso uma total futilidade da vida, que não havia fundamentos para passarem fome por vontade própria, enquanto outros morriam por falta de comida por todo o mundo.
O ser humano se preocupa com coisas muito idiotas, pensou. Balançou a cabeça como se não aceitasse tudo aquilo. Pressentiu que algo se mexia na mesa, foi tirando bem devagar a revista da frente do rosto e viu que o copo começara a tremer, era impressionante, algo tremendo de um jeito muito estranho, nunca havia visto nada igual.
O objeto de vidro ficou ali fazendo aqueles movimentos em um intervalo de segundos, após isso parou e num solavanco tombou e foi parar no chão cheio de folhas, derramando todo o suco. Quando viu o copo se movimentando na mesa, levou um susto, mas depois de algum tempo percebeu que abalos sísmicos por ali eram normais, os terremotos eram comuns no lugar.
- Scott! – chamou um senhor, mas o moço não respondeu.
- Scott! – chamou novamente, ele estava sonhando acordado como quase sempre.
- Scott! – agora cutucando o rapaz que deu um pulo e tanto da cadeira.
- Nossa!Senhor Molberlend, assim me mata do coração – disse ele branco do susto enquanto dava um longo suspiro.
- O que aconteceu caro Scott? – indagou o senhor ajeitando os óculos na ponta do nariz.
- Nada demais, só um copo se mexendo – acordando dos pensamentos.
O homem deu uma risada e disse:
- Lá vem você com mais uma daquelas histórias de louco.
Scott devolveu um sorriso amarelo.
- É... Acho que devo estar meio louco mesmo. Mas o que deseja?
- Só queria o jornal de esportes é claro. Sempre venho aqui para isso. Adoro esportes – dizia o velho de cabelos brancos.
O moço deu uma risada meio sem graça, pegou o jornal em uma prateleira da banca e entregou ao senhor que o pagou com alguns dólares. O homem se despediu dando as costas a Scott, o rapaz olho no relógio de pulso, marcava dezoito horas, o horário em que ele fechava todos os dias.
Guardou tudo, fechou a banca e se dirigiu para o carro, um velho Landau Galaxy 7 Litre que seu pai havia deixado, talvez a única herança e lembrança que o fizesse lembrar da família.
Era um automóvel preto e cumprido, na verdade um modelo bruto de carro com um motor V8 com carburação quádrupla que esbanjava uma potência de 425 cavalos e que tinha um torque assustador.
A verdadeira máquina de correr era de 1967, na verdade muito velho, mas o único jeito de Scott chegar até a banca sem andar a pé por vinte e três enormes quarteirões seria ir de Landau. Após abrir a porta com muita dificuldade, sentou-se no banco e sentiu as velhas molas o incomodarem e fazerem um barulho irritante, estrondosamente voltou a fechar a porta, ligou a máquina com um ronco exagerado e seguiu em direção ao seu apartamento, a cortinha de fumaça enegrecida saia pelo escapamento.
Seguindo por uma rua bastante movimentada, as pessoas encaravam o carro e a maioria dava risada e outros até tiravam sarro na cara dura. Virando a esquina no seu quarteirão, sem querer perdeu o controle do carro e invadiu furiosamente o jardim da sua vizinha, a senhora Firsth, a sua inimiga declarada.
O jardim era lindo e estava praticamente irreconhecível, nesse momento se encontrava todo acabado, nem os duendes de porcelana sobraram para contar a história, por fim o carro somente parara quando colidiu com a árvore fazendo um barulho de lata sendo amassada.
A velha vizinha saiu da casa aos berros com as mãos nos cabelos brancos e xingando Scott:
- Seu louco descontrolado, onde já se viu, acabou com o meu jardim que demorei anos para fazer – disse ela pegando um galho grosso no chão para bater nele.
- Mas senhora Firsth, posso explicar – tentando escapar da confusão enquanto saia do carro com as mãos apertando os cabelos, Scott realmente estava muito enrascado quando se tratava daquela senhora.
- Explicar? Já é a terceira vez que acaba com o meu jardim, na infância estava brincando de esconder e quebrou tudo. Aos quinze ficando com aquela banguela da sua ex-namorada acabou com tudo novamente e agora com essa lata velha.
- Mas senhora, explico tudo! – dizia ele sem saber o que dizer.
- Ah... Você vai explicar na delegacia seu retardado, você vende jornal ou fica bebendo por ai? – a velha chegava jogar bolas de cuspe no rosto do rapaz, e o cheiro de cachimbo que vinha junto as palavras o incomodava demais.
- Não é nada disso, é que estava meio distraído, perdi o controle e vim parar bem aqui no jardim da senhora – explicava ele olhando para o estrago, nem ele mesmo acreditava naquilo.
- Mas você vai arrumar tudo isso aqui amanhã de manhã seu vagabundo, desgraçado.
- Tudo bem senhora! Eu arrumo então... – dizia se afastando
- O sermão foi dado Scott, agora tenho que entrar para fazer a comida do meu velho Bill – dizia enraivecida enquanto seguia para a porta da casa.
- Manda um abraço para ele senhora Firsth, vai dar uns beijinhos hoje? – perguntou ele sorrindo e zombando ao mesmo tempo.
- O seu idiota de um cafajeste, o Bill é o meu gatinho – e bateu a porta na cara de Scott.

Um comentário:

  1. Que livro intrigante, muito interessante a forma como o autor trabalha os fatos e os detalhes, com certeza comprarei esse livro!

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